segunda-feira, 29 de abril de 2024

Breve História do Teatro Ubaense

Não é possível afirmar com precisão o início das manifestações de teatro em Ubá, pois devem ter se iniciado ainda em tempos remotos, com peças de teatro nas escolas e grupos de teatro litúrgico. Pesquisando, podemos encontrar fotos de 1925 onde o Cine Theatro Mineiro na Praça Guido, já se encontrava ativo. Na página Museu Virtual Ubá, encontramos uma foto de uma encenação teatral datada de 1942, no elenco: Lilia Peluso, Walter Teixeira de Siqueira, Marta Trevizano e vários outros. Do ano de 1967, encontramos registros de fotos do espetáculo “Morte e Vida Severina”, encenado no auditório do Colégio Sagrado Coração de Maria, pelo Grupo Reunião, dirigido por Luiz Paulo Ferreira de Andrade. No elenco Márcia Chartune, Almir Mauad, Fernando Carlos Gonçalves Cruz, Rita Perillo Siqueira, José Raymundo Sollero Caiaffa e muitos outros. Esta peça teve muitas apresentações em Ubá e viajou por várias cidades, incluindo o Festival de Ouro Preto. Conta-se que neste período havia muita efervescência cultural, com grupos de teatro nas igrejas e no movimento estudantil. Um grupo/movimento que teve grande impacto na década de 70 foi o Panis Etc Circensis





Tendo como referência Mauro Mendonça, grande ator ubaense do teatro e da TV, muitos foram estudar artes cênicas fora de Ubá como: Helder Carneiro, Paulo Lanna, Gilberto Torres, André Silveira Cortês e muitos outros. Alguns foram para o palco, outros para as áreas técnicas, reconhecidos na cidade e também a nível nacional. Essa geração que começou a se envolver com teatro entre as décadas de 70 e 80 produziu muito na cidade. Paulo Lanna realizou vários trabalhos de destaque, sendo o maior deles o musical “Os Puris” (1991), contado a histórias desta tribo. Com um cenário imenso de ocas indígenas erguidas em meio a mata, um grande coral cantando em Tupi Guarani regido pelo maestro Marum e elenco de cerca de quase 400 pessoas, o espetáculo deixou a plateia encantada na época. Outras figuras celebres estiveram em espetáculos dirigidos por Paulo Lanna como: Aparecida Camilloto, Miúcha Trajano, Élison Pizziolo, Sérgio Bandália, Mauro Paulino, Marcos 70 e outros. Helder Carneiro, outro grande ator, diretor, dramaturgo, cineasta e educador de nossa cidade, construiu uma carreira sólida dentro e fora de Ubá, estando em plena atividade até hoje. Após a pandemia, como parte das comemorações de seus 50 anos de carreira, esteve em temporada em Belo Horizonte com o espetáculo monólogo "O Astronauta". Em 2024, ele e a professora Magda Soares de Ubá, estiveram em visita ao continente Africano, realizando intercâmbio com o grupo teatral angolano União Cultura Teatral (UCT), e também em 2024, Helder Carneiro lança o documentário "Panis Et Circensis", recorte importantíssimo do teatro durante a ditadura, trazendo figuras importantes da história artística de Ubá. sobre parte de sua experiência teatral na UNIRIO no período da ditadura. Também formado em artes cênicas na UNIRIO, Gilberto Torres é ator de teatro, cinema e televisão. Conhecido por atuar em novelas e séries da Rede Globo e Record, participou de grandes produções como: "Terra Nostra" (1999), "Amor Eterno Amor" (2012), "Terra Prometida" (2016) e várias outras,  trabalhando também em campanhas publicitárias de grandes marcas. Tem vasta experiência no cinema, o que inclui filmes e no Brasil e carreira internacional em filmes como "La Boca Del Lobo" (1988), e "A Fronteira" (2003) no qual foi protagonista. Porém, Gilberto Torres nunca abandonou o teatro, tendo participado de muitos trabalhos ao longo de sua carreira, umas das ultimas peças em que atuou foi "O Pequeno Livro das Emoções Perdidas" (2019). Recentemente o multi artista retornou a Ubá, e tem desenvolvido projetos tanto na área teatral, como de publicidade e audiovisual. André Cortês é ubaense, residente em São Paulo, com formação em arquitetura e urbanismo pela UFMG (1996). Cursou também as disciplinas de pintura e escultura na escola de belas-artes e frequentou o curso de cenografia e indumentária teatral. Participou de projetos no CPT de Antunes Filho, e trabalhou com a renomada Daniela Thomas em projetos de cenografia e figurino para óperas e teatro. Já recebeu o prêmio APCA de melhor cenografia e três prêmios Shell nos anos de 2000, 2005 e 2015. É coordenador do Curso de Cenografia da EBAC (Escola Britânica de Artes Criativas) em São Paulo, desde 2017.









O ator e diretor Giovanni Gori também fez parte da mesma geração e se mantém ainda ativo na carreira teatral, tendo recentemente dirigido a peça “Hediondos”, com os atores ubaenses Vinnie Bressan e Adriano Lucas. O espetáculo rodou inúmeros festivais, teve grande repercussão na mídia, e recebeu várias premiações. 




Com produções iniciadas em meados dos anos 80 e 90, temos o Grupo Risada Livre Show (1987) liderado por João Batista Bressan, ator de teatro e circo e também diretor e produtor, que desenvolveu muitos projetos sociais na cidade, o que inclui liderar o projeto Doutores do Riso, também deu aulas de teatro e circo, e por décadas interpretou Jesus em espetáculos da Paixão de Cristo, Bressan também junto a Associação Rosa Mauad Jacob, liderou o projeto de preservação e restauração de parte do prédio da Estação Ferroviária. Do mesmo período, temos o professor Cristiano Rodrigo, que já dirigiu inúmeros grupos de teatro estudantil em Ubá, deu aulas em inúmeros projetos sociais, tendo feito parte também do Grupo de Teatro Padre Joãozinho (1992). Bressan e Cristiano permanecem em atividade. Na década de 2000, outro grupo muito ativo na cidade foi o Grupo Teatro FezeFaiz, criado e liderado pelo ator, diretor e educador Fabrício Sereno. Juntos no grupo estiveram: Amanda Fontoura, Mariana Samor, Maria Olinda Ferraz, a família Ribeiro (Rogério, Romildo e Renato) Filipe Rufatto, Samuel Castro, Aline Gambatti, Juliana Campos, o ator, educador e contador de histórias Cássius Lopes (que também fez parte dos grupos Padre Joãozinho e Companhia dos Atores do Brasil) e muitos outros. O grupo participou de festivais, realizou outras atividades relevantes e criou em 2005 a Associação Fezefaiz, ficando à frente da mesma até 2008. Hoje com 20 anos de existência, a entidade é uma das maiores associações de promoção de cultura da cidade com ênfase no teatro. Após encerrar os trabalhos do grupo Fezefaiz, Fabrício e sua esposa Melissa Travagini fundaram a P&B Arte E Movimento também estando ativos até hoje. Os atores e diretores Fernando Cruz e Marlon Bau que nos deixaram tão jovens, também foram muito ativos, estando Fernando por muito tempo à frente das aulas de teatro do Ginásio São José e Marlon Bau tendo fundado junto a Jhon Herbert e outros o CORJA (Companhia Regional Jovens Atores). Outra pessoa de trabalho relevante na cidade é o ator e produtor Ewandro Lima que liderou o grupo de teatro empresarial GTAE, esteve à frente de aulas de teatro no antigo CESEC, e esteve junto com o J.B Bressan no Projeto Melhorarte, produzindo vários espetáculos e oficinas em Ubá. Não podemos deixar de mencionar a força feminina nessa história. Aparecida Camilloto, por quase duas décadas, liderou o projeto Arte Educação no Centro Experimental de Artes de onde saíram vários artistas de teatro de Ubá. Beth Barros enquanto secretária de cultura, esteve à frente da obra de inauguração da Sala De Teatro Chiquinha Dias Paes no ano de 2009. As professoras Dorinha e Janaina Guiducci, que lideraram inúmeras turmas de teatro estudantil em escolas de Ubá. E a professora Patrícia Vicênzia que teve grande destaque a frente do Grupo de Teatro Vicênzia, que viajou inúmeras cidades e foi premiado em festivais, e também sendo Patrícia a criadora do Festival Nacional de Teatro Mostra Vicênzia, que foi realizado em Ubá entre os anos de 2001 e 2006 com grande sucesso. Ainda falando sobre o trabalho das mulheres no teatro, temos a diretora Roberta Silva à frente da Companhia dos Atores do Brasil e do Capacitor Cênico (2002). Oferece desde 2006 assistência técnica e oficinas de capacitação aos grupos de Ubá, é criadora do Movimento Teatral de Ubá (MTU) e em 2011 junto com seu esposo, ator, diretor e dramaturgo Fabiano Martins criou o FETUBA – Festival de Teatro de Ubá. Roberta e Fabiano também trabalham juntos na antiga Associação Fezefaiz desde 2006 (nomeada associação MUTUM desde 2021) promovendo inúmeros outros projetos no setor teatral e na conquista de políticas públicas para o setor. Fabiano é preparador corporal e vocal de elenco, ministrando desde 2006 oficinas de capacitação. Também esteve junto a Filipe Rufatto à frente da Bazari Produções (2010/2014) produzindo vários espetáculos de Ubá e trazendo peças de fora.



Ainda sobre as mulheres de renome no teatro da cidade, temos: Naiara Fernandes (Cia de Teatro Rastro dos Astros), Grazzi Cordeiro (Cia. Duoavesso de Teatro), Didi Paschoalino (Viva Produções) Stefany Dias, Polly Magoo e Flávia Costa (Companhia dos Atores do Brasil e Mutum Cia. Teatral) todas com quase 20 anos de carreira e muita produção. Não podemos deixar de mencionar aqui o grande diretor teatral Lucas Menezes, fundador da Cia de Teatro Rastro dos Astros (2008), Lucas é ator, diretor, dramaturgo, produtor, carnavalesco e além de seu grupo principal esteve à frente de outros grupos ubaenses como Ânimus, Libertas e Flor Rendada. Professor de teatro e um dos diretores mais premiados de Minas Gerais, Lucas fez parte da equipe do antigo festival Mostra Vicênzia (2001) e está na produção do FETUBA (2011) desde a primeira edição. Os diretores Maykon Ray e Aurélio Pimenta, também tem destaque, estando juntos com Grazzi Cordeiro, Debora Albino, Larissa Silvestre e outros na criação da Cia. Duoavesso de Teatro em 2013. O grupo premiadíssimo em festivais, também fundou em 2022 a Escola das Artes Duoavesso, dando suporte também aos grupos clandestinos de Teatro (2022) e Só Arte Cia. De Teatro (2020). O Só Arte e a Cia. Duoavesso produzem há 3 anos o Festival de Cenas Curtas Festart e também fazem parte da produção do FETUBA desde a primeira edição. Por último citamos outro grupo de grande relevância o cenário atual, a Mutum Cia. Teatral (2012) sob a direção de Cassiano Camisão e Sueli SanSeverino. O casal está à frente de projetos importantes como a gestão do Espaço Cênico Mutum na Estação Ferroviária, tendo conseguido inúmeros recursos para construção e manutenção desta sala multiuso (teatro, cinema e outras artes), estão à frente da Associação Mutum desde 2018. Existem muitas outras pessoas envolvidas na história do teatro ubaense, pedimos desculpas se não foi possível citar todos neste breve relato histórico. Agradecimentos a cada um que participou e participa desta jornada.



Artigo escrito por Roberta Silva como parte do projeto “Mapeamento Teatral de Ubá – O Resgate de Uma História” promovido por Companhia dos Atores do Brasil (CAB) e Capacitor Cênico.

Roberta Silva é profissionalmente licenciada pelo SATED-PR como Técnica em Artes Cênicas e atriz, a partir do ano de 1999. Desde 2001 desenvolve treinamento de atores e técnicos em Minas Gerais, também trabalhando como atriz, diretora teatral e produtora cultural. Tem em seu histórico, mais de 20 espetáculos montados desempenhando funções de diretora, atriz, figurinista, cenógrafa, iluminadora, produtora e outras. Ministra cursos, capacitações e mentorias na área artística e cultural. Premiada em inúmeros festivais. Criadora e diretora do grupo Escola Teatral Companhia dos Atores do Brasil (CAB), criadora e mentora do Método Capacitor Cênico de capacitação de artistas. Criadora, Curadora Artística e Coordenadora Geral do Festival de Teatro de Ubá - FETUBA. Criadora do Movimento Teatral de Ubá (MTU). Membro da Associação Mutum Ponto de Cultura e da Mutum Cia. Teatral. Facilitadora artística no Espaço Cênico Mutum. Capacitada pelo Ministério da Cultura (MINC) e pelo SENAC em Gestão Cultural, Elaboração de Projetos e Empreendimentos Criativos. Participa na linha de frente como sociedade civil da implantação do Sistema Nacional de Cultura na cidade de Ubá. Fez parte da equipe de elaboração da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Ubá. Fez parte da equipe que implantou o Conselho Municipal de Cultura. É suplente da cadeira Pontos de Cultura no Conselho Municipal de Cultura. Fez parte do Comitê Gestor da Lei Aldir Blanc em Ubá. Também é diretora teatral e produtora cultural licenciada pelo SATED/MG (Sindicato dos Artistas e Técnicos do Estado de Minas Gerais). Atualmente é responsável pelo Mapeamento Teatral de Ubá e realiza resgate histórico deste seguimento.